O AMOR USA UM CHAPÉU BRANCO DE CAUBÓI

Meu primeiro amor era um príncipe. Loiro, olhos azuis, educado, tinha um sorriso lindo e elogiava minhas escolhas musicais. Nos conhecemos quando crianças e crescemos juntos, fizemos dupla na escola e com o tempo descobrimos coisas surpreendentes. " Sério que as meninas são diferentes dos meninos?"  😂 Ele reprovou a oitava série e nos distanciamos por uns anos. No reencontro éramos perfeitos estranhos. Ficamos um ou dois anos nos olhando de longe, uma certa platonicidade no ar. "Será que você é você mesmo? E esse você que você é hoje ainda é o que eu me lembro?" Um dia virei para ele e disse: " Bora parar com essa palhaçada? ". Marcamos date perto do ano novo. Eu não fui. Sei lá, estava distraída na praia com o mundo inteiro aos meus pés. Nos perdemos novamente. Há anos nos encontramos na rua, sorrimos e rolou um " E aí, beleza? ". Fiquei tão desnorteada que atravessei uma avenida com o sinal aberto, fui xingada por uma senhorinha e q...

Quando você se foi eu não chorei. Mentira, chorei dias inteiros e noites intermináveis, durante muitos anos, porém sem saber que era por sua perda. Um grito mudo, um luto invisível, solitário, sem nome, sem validação ou data de vencimento. Como explicar para alguém a dor de perder um bebê que não chegou a nascer? Como podia eu expressar algo que não compreendia, que não tinha e que não tenho maturidade e luz para compreender. Uma conexão mais forte que os laços terrenos, que o sangue e a barriga. Sei que você está bem, no céu, com sua vó e todos os nossos mestres de luz e te peço perdão por não ter sido forte o bastante para tê-lo perto de mim. Eu tinha medo e não sabia que você estava para chegar até que me deixou. Porém apesar dos muitos erros imaginados ou cometidos sempre pensei em você, meu filho, com muita saudade e carinho. Espero que possa desculpar esse velho espírito para que possamos nos reencontrar e caminhar nessa existência de mãos dadas. A partir de hoje, ve...

A cerimônia de queima das escadas foi celebrada com toda pompa e glória. Pelas ruas ouvia-se canto e euforia. Alegria pelos anos de liberdade que haviam de vir. Se tornaria um evento anual para que nunca se esquecessem de todos os degraus que haviam subido e que não haveriam mais de descer. ¡Viva la revolución!

Para que fique claro e que todos saibam a verdade, Joaquim não se suicidou. Pelo menos, não por completo. Houve uma briga, causada por seu romance secreto com Eleodora. Verdade seja dita, ele realmente já a amava, porém apenas por reconhecer nela traços de Lili, que lhe haviam sido negados. A situação era insustentável. Palavras difíceis e pesadas foram ditas, estapearam-se até e ele a jogou ao chão, no barco alugado para o que seria um dos melhores dias de suas vidas. Sentia-se vingado enquanto ela chorava, pequena e sozinha, na imensidão do oceano. Joaquim vira-se para ir embora, mas não saberia viver sem o feitiço que os prendia. Beija-a uma última vez e em um movimento impensado lança-os ao mar. Desesperada, ela escolhe amar a si própria, solta suas mãos e o deixa cair. Lili mata Joaquim, ele morre.